MESTRE DE FILOSOFIA O MEU GATO MIA | Pintura

JOÃO SILVA
Galeria Espaço Artever
de 22 de Julho a 31 de Agosto de 2007

Há mais de uma vintena de anos que acompanhamos o percurso do João Silva na pintura (tanto no Artever como em outras situações). E por isso vamos tentar (com conhecimento do autor) organizar algumas ideias.
Devido ao facto de não ter tido uma formação académica, ou próxima, e de não ter tido a tentação de uma representação que se aproxime da realidade “olhada”, João Silva, criou um universo pictórico que o distingue. Particularmente as suas paletas. O que só abona na genuinidade de quem sente um forte impulso para se expressar por meio da pintura.
Ao fintar as armadilhas representativas acertou, em cheio, num universo de sonho materializado em ténues vestígios de qualquer coisa. A coisa é a própria pintura. Apesar de nos presentear com a presença de diversos objectos e temas, aquilo que nos motiva não é a análise racional do seu conteúdo, mas antes, a estimulação das emoções. Não ficamos indiferentes ao que se encontra representado, mas o que mais nos atrai, no seu trabalho, são as sensações que nos provoca.
As paletas (cinzentas) terão a sua razão no emprego de cores muito contaminadas de branco e preto. E é essa impureza que torna puro o seu discurso.
Apesar de se notar alguma ingenuidade em diversos aspectos da sua obra, esta, não é uma pintura “Naif”. Digamos, antes, que é uma pintura de erudição simplificada.
Quando nos confrontamos com o título da exposição, ”mestre de filosofia meu gato mia”, emprestado de Agostinho da Silva, por quem o João Silva nutre uma enorme admiração, pensamos confirmar o que atrás sugerimos.
E quem mira a pintura como coisa, não chia, nem mia.
Amadora, Julho de 2007 | José Mourão


Todos os dias repetem o mesmo dia, constantemente,deslocado do eixo da realidade.
A pintura é a direcção que os ponteiros do relógio indica,
o rasto entre a mecânica mental e o gesto intemporal.
Cada camada de tinta na sua especificidade, livre do sentido
global, adquire discurso dissonante. Mas se por um lado a sua
sonoridade rítmica desequilibra o pulsar de toda a estrutura,
por outro, confere-lhe o sangue da inquietação.
O que será a minha pintura daqui a uns tempos?
Visto que a escala da criação artística está interligada com a da
minha existência, a única certeza é de que o único trajecto
imutável é o tempo à volta do seu descobrimento.
João Silva, 2007